A famosa TBR - ou lista de leitura
Quem aqui não tem uma lista de leituras futuras com mais livros do que anos de vida, que atire a primeira pedra. Acho que tem algumas verdades universais de todas as pessoas que gostam de ler: a gente sempre quer colocar mais um na lista, enfiar outro na prateleira, passar aquele lançamento na frente…
E nessa vida de embaralhar minha fila de leitura mais do que um crupiê em Vegas, acabei deixando de lado alguns livros que não poderiam ter sido esquecidos. Por isso vim contar sobre a forma que vou me desafiar esse ano: para cada livro estrangeiro lido, preciso ler um nacional. Ah, isso vale também para os livros do Por Dentro do Livro (Talvez eu esteja sonhando alto demais, mas o tempo dirá). Por sinal, se você quiser acompanhar meu sofrimento minha saga lendo e comentando A amiga genial, estou fazendo o diário de leitura no TikTok da loja; é @Tradushirts, como o Instagram mesmo.
Bom, vamos lá para a lista de leitura desse ano, começando pelo clube, já que ele tem ordem e datas definidas!
A amiga genial, Elena Ferrante (Tradução: Maurício Santana Dias)
Kindred, Octavia Butler (Tradução: Carolina Caires Coelho)
Poemas escolhidos, Elizabeth Bishop (Tradução: Paulo Henriques Britto)
Copo vazio e As pequenas chances, Natalia Timerman
Mr. Mercedes, Stephen King (Tradução: Regiane Winarski)
Sul da fronteira, oeste do sol, Haruki Murakami (Tradução: Rita Kohl)
Os nacionais que já estão na lista aqui:
Mayara e Annabelle vol. 1 e 2, Pablo Casado e Talles Rodrigues (Conrad)
Tupinilândia, Samir Machado de Machado (Todavia)
Corpos Secos, Luisa Geisler, Marcelo Ferroni, Natalia Borges Polesso e Samir Machado de Machado (Alfaguara)
Lebre da Madrugada, Arthur Malvavisco (Corvus)
Se a casa 8 falasse, Vitor Martins (Alt)
Suicidas, Raphael Montes (Cia das Letras)
As artes mágicas do Ignoto, org. Dante Luiz e G.G. Diniz (Corvus)
Heroínas, org. Clara Madrigano (Corvus)
Torto arado, Itamar Vieira Junior (Todavia)
Árvore inexplicável, Carol Chiovatto (Suma)
Mas vocês sabem que não sou de fazer nada pela metade, e ler nacionais é apenas uma parte do desafio. Também quero colocar no meu repertório (chique, né?) leituras de diferentes países. Para isso, convidei algumas pessoas para recomendarem livros por aqui e te convidar a ler junto comigo esse ano!
Falando em nacionais, dia 30/01 foi dia do quadrinho nacional, então temos estampas comemorativas da Turma da Mônica disponíveis na loja.
Lidos até agora:
Divinos Rivais, Rebecca Ross (Alt, tradução: Sofia Soter)
Sabe aquele meme do “definitivamente é um livro”? É isso. A personagem principal me dava preguiça e irritação, achei o romance e os relacionamentos entre os personagens muito mal construídos; é um tal de “acabei de te conhecer e agora somos melhores amigos e uma família”, e de “agora que admitimos que estamos apaixonados podemos nos casar” (gente, no mesmo diaaaaa, cadê a Elsa pra meter um toque de realidade?). No fim das contas o livro todo parece um prólogo apressado para que os leitores não fiquem perdidos com o livro dois (sim, é claro que tem um livro dois). A sensação que me deixou foi de “essa reunião podia ter sido um e-mail”. Não me levem a mal, algumas das cartas e emoções expressadas pelos personagens na própria escrita (ambos são jornalistas) são realmente muito bonitas… mas sei lá, faltou o molho. A leitura vale a pena pelo retrato da guerra e seus efeitos na política, famílias e vida cotidiana - e talvez pelo retrato da profissão de jornalista - mas não espere nada profundo.
Gay de Família, Felipe Fagundes (Paralela)
Sorte nossa, fomos agraciados com o humor e escrita de Felipe Fagundes. Admito, se você não faz parte da máfia do alfabeto (também conhecida como comunidade LGBTQIAP+), algumas piadas vão te parecer sem graça ou mesmo passar desapercebidas. Nada disso tira o mérito deste livro que é um drama familiar disfarçado de comédia. Com personagens complexos e situações hilárias que acabam por construir um Rio de Janeiro onde uma Helena de Manoel Carlos passaria ao lado de Diego e seus Dioguinhos fazendo cara de nojo, mas secretamente invejando esse quarteto fantástico de crianças (sim, considero o tio adulto de Ester, Miguel e Gabriel uma criança), Gay de Família conta a história de um homem que precisou sair de casa para fugir do abuso e homofobia dos seus pais e agora precisa reaprender a baixar a guarda.
Coreia
Por Taty Guedes, especialista em interpretação e tradução de idiomas. K-poper e amante de coisas irlandesas.
Três livros coreanos que eu recomendo para quem quer conhecer a literatura desse país e não sabe por onde começar, mas já aviso que não são leituras levinhas. Todas tratam de temas difíceis, recomendo ter lencinhos por perto ao ler:
O livro branco, de Han Kang, com tradução de Natália T. M. Okabayashi, Ed. Todavia. Nesta obra, Kang experiencia o luto pela sua irmã, que ela nem conheceu, e narra essa história e seus sentimentos contra o inverno branco que ela passou na Polônia. A linguagem é poética, bastante diferente de suas outras obras.
Sobre minha filha, de Kim Hye-Jin, com tradução de Hyo Jeong Sung, Ed. Fósforo. O livro fala da relação de uma filha única com sua mãe, que não aceita sua relação lésbica, nem suas escolhas políticas e profissionais. Uma narrativa que fala de questões sociais com delicadeza, ao mesmo tempo cutucando as feridas de um país conservador.
A espera, de Keum Suk Gendry-Kim, com tradução de Yun Jung Im, Ed. Pipoca & Nanquim. Nesta HQ, a autora fala das dores e horrores da Guerra da Coreia ao contar a história de uma mulher que foi separada de sua irmã e passou a vida procurando-a. Também tendo servido como “mulher de conforto”, como é possível fazer as pazes com toda essa violência do passado?
Japão
Por Taty Guedes, especialista em interpretação e tradução de idiomas. K-poper e amante de coisas irlandesas.
Quer conhecer mais da literatura japonesa pra além de Murakami e dos mangás? Cola aqui que é sucesso!
Para ficar com o coração quentinho:
O gato que amava livros, de Sosuke Natsukawa, com tradução de Fernanda Dias, Ed. Planeta. Rintaro herda a livraria do seu avô, onde ele cresceu entre os livros e a paixão do antigo dono. Quando ele precisa decidir se vai vender a livraria ou não, surge em sua vida o gato Tigre, que pede a ajuda dele para resolver um grande problema. Uma fantasia muito gostosinha de ler!
Para desgraçar a cabeça:
Terráqueos, de Sayaka Murata, com tradução de Rita Kohl, Ed. Estação Liberdade. Murata é uma autora que questiona a “normalidade” da sociedade, e nesta obra acompanhamos Natsuki, uma criança imaginativa que diz vir de outro planeta. Ao longo da leitura, descobrimos que não é bem assim, e que Natsuki lida como pode com os abusos e opressões que sofreu.
Para sofrer um pouquinho:
Confins de um sonho, de Yumi Sudo, com tradução de Drik Sada, Ed. Pipoca & Nanquim. Esta HQ belíssima conta a história de duas amigas que se reencontram aos 85 anos, quando uma delas já está com uma doença degenerativa avançada. Junto com elas, revisitamos sua juventude e o amor que elas nunca puderam realizar.
Falando em literatura internacional, dia 28 de janeiro comemoramos 211 anos do lançamento de Orgulho e Preconceito. É claro, você pode encontrar uma edição limitada de aniversário na loja.
França
Por Luigi Ricciardi, professor e fundador do Universo Francês; além de ser escritor e manter a Acrópole Revisitada, um canal de resenhas de livros.
O lugar, Annie Ernaux, com tradução de Marília Garcia, Ed. Fósforo.
Annie Ernaux é uma das escritoras francesas mais importantes da atualidade!
Ela venceu o Nobel de Literatura em 2022.
Annie escreve uma obra fortemente biográfica, falando não só de sua individualidade, mas também de uma certa coletividade. Por isso, muitas vezes seus livros são chamados de autobiografias sociais.
Em “O lugar”, a partir da morte do pai, Ernaux fala da cidade onde cresceu, no interior da Normandia, e de uma parte rural e operária da França, mostrando as dificuldades e a luta na manutenção de um comércio, fonte de renda da família. Ela revisitada também as relações nesse povoado, que guarda suas semelhanças e diferenças em relação aos estereótipos nacionais.
É o regresso de alguém que há muito não vivia e nem se sentia parte desse lugar, mas que precisa retornar, física e mentalmente para esse espaço, cheio de memórias e feridas.
É impressionante como, em um livro tão curto, Ernaux consegue tocar em tão vários temas como família, regionalidade, linguagem, expectativas, perda e regresso.
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As traduções colaborativas de obras em domínio público
Por Vanessa Thiago, professora, tradutora e mestre em letras. Aluna viciada assídua de cursos editoriais.
Diferente do que muitos pensam, acredito que deva haver uma parceria entre tradutores, revisores e os demais profissionais que atuam no mercado editorial. É um prazer poder indicar um colega e ver que o trabalho dele foi bem aceito, e não, não é possível cuidar, com qualidade, de dez trabalhos ao mesmo tempo, então, por que não indicar?
Abri um grupo de WhatsApp em um dos muitos cursos de tradução que estava fazendo na LabPub. Sempre abro um, pensando no networking e em aumentar nosso círculo. Depois de uma aula sobre prospecção, se não me engano, alguns colegas começaram a desanimar por ainda não terem um portfólio.
A professora propôs, nesse caso da falta de material para apresentar, que fizéssemos uma tradução. A ideia era que as pessoas pegassem um conto e lançassem no Kindle Direct Publishing, o famoso KDP, para começar a alimentar o currículo. Acontece que publicar sem uma revisão, com uma diagramação ruim e sem capa pode queimar o tradutor, assim como queima um autor que simplesmente sobe o texto para a plataforma.
Aí que tive uma ideia e fiz uma proposta a vários profissionais para pegarmos um dos textos que eu já tinha separado e dividirmos, e fazermos todo o trabalho posterior da tradução, com revisões, capa, diagramação (confesso, foi no app da Amazon, mas era o que dava), e, finalmente, uma documentação com ficha catalográfica e ISBN. Seis colegas toparam a empreitada e escolhi A festa no jardim. Seria o projeto ideal pelo número de contos e todos gostaram da ideia.
Fizemos preparação, revisões e capa, a divisão foi feita por porcentagem de "trabalho feito" e combinamos que, como é um projeto, receberíamos por isso o valor proporcional do trabalho, nas vendas no Kindle, por um período de 2 anos (sim, sou otimista).
Claro que nem tudo foi lindo. Primeiro foi pedido uma prorrogação de tempo de um mês para a entrega. A princípio, calculamos dois meses para essa fase. Depois uma das tradutoras sumiu, bloqueou todo mundo e até hoje não sabemos o que aconteceu. Tudo bem, a Viviane entrou no projeto e entregou um trabalho muito bom em um prazo apertado. Textos nas mãos, comecei a primeira preparação que fiz na vida e digo que levei o dobro do tempo de uma pessoa que está acostumada. Digamos que mais do que o dobro. Problemas superados, cursos extras feitos, hoje temos nossa primeira publicação à venda.
Além desse, temos mais dois da Katherine Mansfield em andamento, um na fase de última edição, outro ainda em tradução. Temos também um livro de parapsicologia em tradução e um latino-americano em preparação. Isso envolve cerca de trinta tradutores com textos sendo publicados, preparadores, revisores, duas capistas, uma fila de espera em novos projetos e uma pasta cheia de novas possibilidades.
E que venha 2024.
Em breve na TraduNews
Entrevista com Jean, Quest Designer de Ravendawn;
Texto inédito, profa. dra. Liliam C. Marins;
O processo de criação — e revelação — da estampa de A amiga genial, de Elena Ferrante;
Texto inédito, profa. dra. Aline Kiminami;
Texto inédito, Wali Andrade M.A, Localization Manager na Activision Blizzard.
O problema de ver as listas de TBR das pessoas é que a minha aumenta!